ANCAT e Prefeitura de Suzano abrem curso de Capacitação a catadores para operação da Central de Triagem de Resíduos do bairro Miguel Badra

Samuel Ferreira

Na manhã de quinta-feira (18), representantes da Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (ANCAT) e da Prefeitura de Suzano participaram da abertura oficial do curso de Capacitação e Formação para os catadores de materiais recicláveis que trabalharão na Central de Triagem de Resíduos do bairro Miguel Badra.

O evento contou com a presença dos catadores Roberto Rocha (presidente da ANCAT) e Eduardo Ferreira (representante do MNCR), além de Roberval Prates (Rede Cata Sampa); Leiliane Santana (Instituto Cata Sampa) e Ary Moraes (ANCAT), coordenador do projeto de formação.

O poder público esteve representado por André Chiang (secretário de Meio Ambiente) e Solange Wuo (diretora de Meio Ambiente). Morador do bairro, o vereador Marcos Antonio (Maizena) também participou da abertura dos cursos.

A iniciativa faz parte do contrato firmado entre o poder público e a ANCAT, que será responsável pelo apoio técnico ao projeto, que conta ainda com a gestão do Instituto Cata Sampa e a logística operacional da Rede Sampa, órgãos ligados aos catadores organizados.

O programa de formação contemplou 30 pessoas, que estão sendo treinadas para operar a nova central de triagem. O cadeirante Lucas Júlio Batista (17), morador do bairro e ex-catador individual, ocupará um desses postos de trabalho. “Na minha opinião, [o projeto] é bom para todo mundo. Ajuda a população e a nós. A reciclagem que o pessoal joga na rua a gente pode pegar e trazer para cá”, disse.

Além do intuito de conscientização ambiental, o curso abrange conhecimentos teóricos e práticos sobre coleta seletiva e o universo da catação de materiais recicláveis, além de temas como cooperativismo, logística reversa e organizações sociais, entre outros.

Conhecimento e superação

Ao saudar o grupo atento de catadores,Roberto Rocha falou dos tempos difíceis, do apoio que recebeu de parceiros e do conhecimento que adquiriram ao longo dos anos

“Fizemos muita coisa juntos, muitas formações, treinamentos, trabalhando para entender como funciona esse nosso trabalho. Essa seleção que vocês tiveram é fundamental para vocês entenderem o que estão fazendo, aonde vocês vão pisar, de que forma vai ser esse trabalho e como vocês vão crescer”, frisou.

Contou ainda sobre o tempo em que conheceu a primeira cooperativa de reciclagem em São Paulo – a Coopamare -, onde foi recebido pelo companheiro Eduardo Ferreira: “Eu não sabia de nada também. Me convidou para fazer um curso na cooperativa dele. Na Época era um curso que se chamava ‘Reciclar cooperando. Cooperando Reciclar’. E a partir daí, foi aquele curso, na verdade, que me motivou a ser o que eu sou hoje”.

Ele também destacou a importância de a categoria desenvolver um programa integrado de coleta seletiva na cidade e pensar em mecanismos de sustentabilidade.

“A coleta seletiva só pela coleta seletiva não fecha a conta das cooperativas. E aí a gente precisa pensar num plano que contribua de fato com o município, com a coleta seletiva. Nós queremos que os catadores das duas unidades tenham dois salários mínimos, ganhem bem, tenham suas cestas básicas, comprem o que precisar, de forma que a prefeitura seja somente um parceiro momentâneo, porque vocês conseguem desenrolar as coisas”, concluiu.

Para Eduardo Ferreira, a parceria entre a ANCAT e a prefeitura fortalecerá todos os atores envolvidos na causa socioambiental do município. “Essa parceria vai fortalecer os catadores, o poder público e a sociedade. Tudo em prol de uma melhoria para o meio ambiente”, disse.

Parceria inclusiva e exemplar

Segundo o secretário Chiang – que disse estar muito feliz com o projeto -, essa parceria é um exemplo para Suzano, para a região e até para o País.

“Toda profissão precisa ter capacitação. É uma forma de nós levarmos capacitação para os catadores que, na minha opinião, são profissionais sim. E quanto mais qualificação, a mão de obra é melhor, o resultado é melhor e no final a gente sabe que na ponta quem ganha é a população. Eu vejo parcerias como essa um exemplo para ser seguido”, ressaltou.

Nas palavras da diretora Solange, ter a ANCAT como parceira para a capacitação é trabalhar com o que há de melhor, dada a sua excepcional qualidade técnica e seu olhar pela vida do catador.

“Isso comunga muito com os ideais do projeto e o olhar da ANCAT vai além. Essa capacitação não é só uma questão teórica, de aprender a mexer em maquinário e operar. Terminando essa capacitação, a gente tem o Programa da Coleta Seletiva novo, repaginado, para iniciar. Nós vamos fazer um trabalho que vai permear os catadores avulsos, isso vai ser muito importante, porque não existem políticas públicas para catadores avulsos. Se você ampara e dá condições de geração de renda, você está tirando esse pessoal da linha da pobreza”, ressaltou. 

Por sua vez, o vereador Maizena enalteceu a importância do projeto: “É minha satisfação como representante [do povo] e como morador do bairro. Quando a gente vai aprendendo mais, principalmente a parte de reciclagem, e deixando nossa cidade e nosso bairro limpos, é maravilhoso”.

Na opinião do catador e técnico ambiental Carlos Henrique, que integra a equipe de mobilização e formação, a capacitação dos novos catadores é de extrema importância e necessidade.

“Conhecimento gera fortalecimento e a gente tem oportunidade de fazer essa troca de conhecimento para gerar fortalecimento da nossa categoria. É uma oportunidade única, onde a gente pode mostrar para o catador que ele é competente, capaz, profissional e eficiente”, afirmou.

Na visão de Ary Moraes, o processo de formação é continuado, para elevar a consciência social e política do cooperado, para que a cooperativa realmente cresça.

“São pessoas que nunca trabalharam numa central de reciclagem. Trabalham com reciclagem, mas avulso. Então é para eles conhecerem como é a operação de uma central e a gestão administrativa-financeira de uma cooperativa. Três pontos são fundamentais nesse curso: gestão administrativa-financeira, operação de uma central e elevação da sua consciência social e política”, afirmou.

A formadora Bruna Cristina, do Instituto Cata Sampa, disse estar muito feliz nessa nova etapa da sua vida: “Eu vim da coleta da rua, na verdade. Eu já trabalhei na coleta porta a porta, já fui da mesa de triagem e da prensa. Sendo uma das coordenadoras de formação, estou muito feliz em ensinar para as pessoas aquilo que eu sei”.